Vamos lá dar então um lamiré pelo insigne percurso lusitano deste verdadeiro meteorito geriátrico.

30 Agosto 2009 – O Sporting resgata Angulo num blitz demoníaco que alvoroçou todo o jardim onde Angulo jogava à malha. Sim, Angulo seria a nova aventura dos leões pelas terras de nuestros hermanos, depois de pérolas tão bem sucedidas como Toñito, Robaina ou Koke. Foi só uma questão de (não) desafiar a História.
Neste radioso dia, Angulo toca com a sua bengala pela primeira vez no chão de Lisboa e as coisas até começam bem: nos testes médicos revela uma saúde invejável e dispensa mesmo a cadeira-de-rodas. Segundo Angulo, o acordo com o Sporting foi muito fácil: explicaram-lhe a táctica, ele disse que gostou e tumba!, o lar de Alvalade contava com mais um residente. Para disfarçar, disse que vinha ganhar títulos, mas até os responsáveis do Sporting acharam que Angulo tinha ido longe demais nesse desejo – a secreta esperança dos dirigentes era apenas não estourar com o depauperado orçamento em fraldas anatómicas.
Assegurou a camisola 17 por ter “a ilusão de um miúdo de 17 anos”. Tudo bem. As camisolas só vão até ao 99 e, portanto, não era possível ter uma camisola com o número de anos futebolísticos reais de Angulo, que seriam 126, no mínimo. E já se sabe como os velhos são chatos quando começam com aquelas cenas nostálgicas, portanto que ficasse lá com a camisola 17.
13 Setembro 2009 – A mui aguardada estreia de Angulo. E logo a titular. Tinham sido registados alguns movimentos animadores nos últimos tempos, com o substantivo “agitação” a ser conotado com Angulo pela primeira vez nos últimos 75 anos. A ansiedade é grande, mas Angulo, muito experiente, treme apenas devido aos primeiros sinais de Parkinson.
O Sporting recebe o Paços de Ferreira. Ao intervalo está 0-0. Paulo Bento quer mudar as coisas e aposta em alguém para sair. Quem? Angulo, claro está, que adormeceu de boca aberta e a babar-se durante a prelecção do mister. Os adeptos procuravam arranjar desculpas para aquilo que (não) viram durante esses inesquecíveis 45 minutos, onde a bola fora rechaçada em trajectórias indizíveis pelos pés conservados em âmbar de Angulo – a mais comum era “ah, ele vem com falta de ritmo”. Não é de todo verdade: Angulo gostava de dançar o seu charlestonzito de vez em quando, quando a ciática não lhe flagelava muito.
17 Setembro 2009 – Um jogador do quilate de Angulo não poderia ficar arredado das grandes luzes da Europa e portanto são-lhe concedidos 8 minutitos em Heerenveen. Um luxo. E não teve muitos reumatismos no pós-jogo. Angulo, com a sua mística particular, ainda contribuiu para distrair a defesa holandesa com os seus espampanantes truques de deixar a bola sair por entres as pernas pela linha lateral, proporcionando a vitória a Liedson.
21 Setembro 2009 – Paulo Bento não conhece a palavra “piedade” e, pérfido, insiste em Angulo para a titularidade no jogo contra o Olhanense, nem 10 dias tinham passado após o seus últimos 45 minutos a titular. Foi quase fatal essa opção. Angulo, sobrecarregado, ia tendo um AVC. Paulo Bento, para não ter que queimar uma substituição devido a falecimento ao intervalo, recolhe Angulo para a caminha logo aos 28 minutos com o placard em 0-2. O Sporting ganha o jogo in-extremis e o plantel tenta reconfortar Angulo, dedicando-lhe a vitória. Mas Angulo não ouviu nada: desde o rebentamento de uma bomba durante a Guerra Civil Espanhola que Angulo possui uma audição muito débil, pese embora a dimensão parabólica das suas orelhas. Os adeptos, contudo, já começam a não achar piada e chegam as primeiras justificações do empresário, proprietário de um franchising de lares de 3ª idade na costa Cantábrica.

To be continued...
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